Prestes a completar 10 anos do maior escândalo de corrupção do futebol mundial, que ficou conhecido como “FifaGate” e resultou na prisão de várias pessoas, o futebol matogrossense se vê diante de denúncias graves contra o atual presidente da Federação Matogrossense de Futebol (FMF), Aron Dresch, e o advogado Geandre Bucair Santos, por falsificação de documento particular e falsidade ideológica, mediante coação e suborno, além de possível associação criminosa. Caso sejam condenados, os dois poderão ser condenados a 13 anos de prisão em regime fechado, mais pagamento de multas.
A denúncia apresentada na 8ª Vara Criminal de Cuiabá pelo ex-presidente do União Esporte Clube e atual candidato a vice-presidente da FMF, Reydner Roberto Souza e Silva, traz provas de que a dupla manipulou documentos para que Dresch se perpetue no comando do futebol mato-grossense sem nenhum adversário. A peça central da denúncia é um documento de apoio à chapa ‘Progresso no Futebol’, liderada por Aron Dresch, que supostamente foi assinado em 15 de abril de 2025, data do início do registro de candidaturas.
No entanto, o denunciante, que era presidente do União, afirma que o documento foi assinado em 14 de dezembro de 2023 e, posteriormente, uma nova via foi assinada em 11 de fevereiro de 2025. ‘Na data aposta no documento do registro da chapa liderada pelos noticiados, em 15 de abril de 2025, o noticiante estava em viagem para a Argentina, conforme documentos comprobatórios em anexo, cuidando-se, portanto, de documento falsificado apresentado com o nítido fim de burlar a higidez do processo eleitoral e registrar o Noticiante em chapa diversa daquela realmente concorre’, afirma a denúncia.
O documento também destaca que Reydner assinou o documento antes do edital de convocação para as eleições, que foi publicado nos dias 15, 16 e 17 de abril.
‘Sendo assinado o documento antes do início do prazo de registro das chapas, o documento não possui validade jurídica ou eficácia legal e, seu uso neste momento, com data alterada manualmente, caracteriza-se como ato ilícito’, argumenta. A intenção da dupla, segundo a denúncia, era impedir o registro da chapa ‘Federação para Todos’ e, consequentemente, a candidatura de Reydner, que é candidato a vice-presidente na chapa de oposição. ‘A intenção perpetrada pelos noticiados na apresentação de documento com data falsificada é nitidamente fundamentar uma eventual impugnação à candidatura do Noticiante na chapa em que foi registrado ‘Federação para Todos’, diante da impossibilidade do apoio pretérito do clube qual presidia (União) para a chapa encabeçada pelos Noticiados’, aponta.
A denúncia também aponta para a prática de coação e ameaça contra os presidentes de outros clubes. ‘Quando da assinatura do referido documento, os presidentes das entidades esportivas (clubes) foram compelidos a assinar o referido documento sem data, não sabendo que tratava-se de estratégia dos Noticiados para impedir qualquer disputa eleitoral neste pleito, sob pena de não recebimento de direitos dos clubes’, afirma o Noticiante.
Como provas, foram anexados trechos de áudios encaminhados por presidentes de clubes esportivos de Mato Grosso, registrados em Ata Notarial, como prova da coação. ‘Boa tarde a todos, sou o Leomar Lauxen Pinto, estou como presidente licenciado do Nova Mutum Esporte Clube. (...) na época foi assinado um documento sem data em apoio ao atual presidente, seu Aron Dresch. Mas para nossa surpresa foi apresentado este documento agora para a subscrição da sua chapa para concorrer à presidência da Federação, esse documento eu assinei ele no dia 26 de fevereiro, junto à Federação Matogrossense.
E agora foi apresentado com a data do dia 15 de abril. Então, para mim, esse documento não tem validade nenhuma para a subscrição de chapa para concorrer à presidência da Federação. Então, quero deixar claro aqui, então, que esse documento, eu não assinei ele dentro da validade do pleito eleitoral, pois na época que eu assinei nem edital para inscrição de chapa, enfim, o processo eleitoral nem estava se iniciado’, afirma Leomar Lauxen Pinto, presidente do Nova Mutum Esporte Clube. O mesmo aponta o presidente do Operário Futebol Clube, Atahide de Mello Paim Russi Duarte.
PAGAMENTO DE R$ 50 MIL POR COAÇÃO
Reidner Souza também aponta que Aron Dresch teria prometido ajuda financeira aos clubes mato-grossense. Porém, o pagamento de uma cota no valor de R$ 50 mil só seria efetuado após assinatura de um documento declarando apoio à reeleição ele. No documento registrado em cartório, Reidner explica que no dia 14 de dezembro de 2023, solicitou o pagamento da cota do clube para uma diretora da federação, referente a participação no campeonato estadual de 2024.
“Pois o presidente Aron prometeu a todos os clubes que a federação iria ajudar com uma cota de 50 mil para todos os 14 clubes que iriam participar do estadual 2024. Assim que eu solicitei o pagamento, ela me informou que esse pagamento só seria efetuado mediante assinatura de um documento. Solicitei que ela me encaminhasse o documento via WhatsApp para que eu providenciasse assinatura eletrônica. E a mesma se negou dizendo que esse documento só poderia ser atendido pessoalmente, assinado pessoalmente”, diz trecho da Ata notarial.
Após explicar que não teria como ir a Cuiabá, a diretora disponibilizou um funcionário da Federação para que levasse o documento em Rondonópolis para assinatura. No registro da declaração, consta toda a conversa e transcrição dos áudio e envio da localização e os comprovantes dos depósitos.
“Quando eu vi o documento, fiquei até preocupado e assustado de tanta loucura. Para que fizesse o repasse de um dinheiro da Federação, eu era obrigado a assinar um documento anuindo a chapa do presidente Aron. assinei o documento por necessidade e sabendo que aquele documento no futuro não teria validade. Porque foi sobre coação, é um documento criminoso”, diz trecho da transcrição.
ATLÉTICO RECEBEU R$ 20 MIL
Em outro áudio enviado pelo presidente do Clube Atlético Mato-grossense, Alex Sandro Real da Silva, para Vinícius Falcão Arruda, fica clara a subscrição de um documento da FMF, em 2024, mediante a liberação de R$ 20 mil ao clube.
“Eu tô com nada rapaz, é que o documento lá já tava assinado, eu fui lá pra ouvir ele lá, né? Você acha que eu tô com eles lá também? A única coisa que me pega lá é o Geandre, né? Mas tem nada não, rapaz, esse documento aí foi assinado na segunda divisão do ano passado. Eduardo (Henrique, funcionário da FMF) pegou a gente na beira do campo, precisando das coisas, entendeu? Eu acho que tem que ter eleição, tem que ter duas chapas, tem que ter tudo, tem que ser democrático, né? Agora ele vai tentar fazer a mesma coisa que o cara da CBF fez, né? Vai tentar minar de tudo quanto forma pra só ter uma chapa. O dia que eu fui lá que ele me chamou, eu falei, cara, o seguinte é, isso aí tá errado, não vai ter briga. Não tem pra onde correr não, entendeu? Mas isso aí não procede.
Eu fui lá, ouvi o que ele tinha pra dizer, me chamou lá, eu fui lá. Mas no documento que tá todo aí, documento assinado aí na matéria, esses documentos aí foram assinados no ano passado na segunda divisão. Aí ele liberou lá vinte mil pra cada time lá. mas eu falei, isso aqui é voto? E ele não, O Eduardo falou, não, eu falei, então tá bom, se for voto eu não vou assinar. Aí ele, não, nem voto não, é só pra abrir a chapa e tal. Aí eu acho que eu posso assinar pros dois lados, não pode”, explicou.
Por fim, a denúncia afirma que “considerando a associação do Presidente da Chapa “Progresso no Futebol”, e dos demais membros de sua Comissão, poderiam cometer os crimes outrora referenciados, configura-se também o crime de associação criminosa, previsto pelo artigo 288 do Código Penal.
Fonte: GD